O crescimento da mídia no ponto de venda deixou de ser apenas uma promessa para se tornar um pilar estratégico das Retail Media Networks (RMNs). No entanto, a captura de receita incremental exige muito mais do que a instalação de telas digitais ou a venda de espaços publicitários: trata-se de desenhar um ecossistema de zonas estratégicas, fases de evolução e indicadores críticos de desempenho, capazes de equilibrar a pressão por monetização com a entrega real de valor para marcas e shoppers. Estamos poucos exemplos que exploram essas frentes críticas com excelência para alcance da incrementalidade.
As Zonas de Impacto: Onde a Mídia Gera Valor
A loja física é um ecossistema vivo, em que cada zona exerce uma função estratégica na jornada do shopper. Para capturar todo o potencial de receita e impacto de marca, as RMNs precisam compreender que cada metro quadrado é mídia – mas que não basta ocupar, é necessário orquestrar. Vamos às principais zonas de impacto dessa jornada:
Zona de Entrada – O palco da inspiração
- Função: Impactar todos os shoppers logo no início da jornada, com mensagens de awareness e campanhas institucionais.
- Potencial: Alta cobertura e visibilidade premium, com inventário de CPM elevado.
- Indicadores-chave: alcance de audiência, recall de marca, footfall gerado para categorias prioritárias.
- Gestão: Deve ser tratada como mídia upper funnel, com padrões criativos mais inspiracionais.
Zona de Categoria – O ponto da decisão estratégica
- Função: Educar e influenciar dentro do contexto da missão de compra e da lógica da categoria.
- Potencial: Aqui se define share of wallet, por isso é a zona de maior relevância estratégica para marcas.
- Indicadores-chave: share of shelf, incremento em cross-sell, lift de marca líder X challenger.
- Gestão: Exige inteligência de categoria e shopper, conectando mídia a planogramas e estratégias de category management.
Corredores e Gôndolas – A arena da conversão
- Função: Apoiar a descoberta, reforçar atributos e promover diferenciação de produto.
- Potencial: Forte em mid-funnel, com impacto direto em consideração e decisão.
- Indicadores-chave: dwell time por corredor, vendas incrementais por exposição, comparação entre cluster test/control.
- Gestão: Deve evitar a saturação; aqui a precificação dinâmica por categoria e sazonalidade é essencial.
Checkout e Saída – O momento do impulso e da fidelização
- Função: Capturar compras não planejadas e reforçar o relacionamento.
- Potencial: Último momento de contato, com forte apelo para cross-sell, loyalty e sampling digital.
- Indicadores-chave: taxa de conversão de SKUs de conveniência, cadastros em programas de fidelidade, NPS.
- Gestão: Equilibrar mídia promocional com ativações de CRM, evitando ruído excessivo.

O Conceito da Perfect Store Media
O modelo de Perfect Store Media amplia a lógica clássica das zonas e a conecta a um framework de gestão de maturidade. Não basta ter telas nas zonas certas: é preciso avaliar se cada ativação cumpre seu papel estratégico dentro do funil de comunicação e da experiência de loja perfeita.
Os Pilares do Perfect Store Media
A ideia de Perfect Store Media (PSM) nasce da evolução natural do varejo como plataforma de mídia. Se no início o foco estava em colocar telas no ponto de venda, hoje entendemos que isso não basta. O desafio é desenhar uma arquitetura de mídia que funcione em sintonia com a lógica da loja perfeita, equilibrando três dimensões: eficiência operacional, relevância para o shopper e captura máxima de receita para a RMN.
Durante muito tempo, a presença de telas e ativos digitais dentro das lojas foi tratada como uma extensão tática do trade marketing. No entanto, sem disciplina, governança e métricas comparáveis ao digital, esse inventário tende a perder relevância e credibilidade junto às marcas.
É nesse ponto que o PSM se torna essencial. Ele funciona como um framework de maturidade, capaz de alinhar objetivos comerciais, experiência do shopper e valor incremental para as marcas. Em vez de olhar para cada campanha como um evento isolado, o PSM propõe que a loja seja vista como um ecossistema orquestrado, em que cada zona tem um papel definido dentro do funil de comunicação.
A adoção dos pilares do PSM garante que a mídia no ponto de venda vá além da simples exposição: ela passa a construir valor de marca, influenciar decisões de compra e capturar receita incremental com eficiência. O resultado é um modelo sustentável em que varejistas monetizam de forma estruturada, marcas confiam no retorno dos investimentos e shoppers vivem experiências mais fluidas e relevantes.
A aplicação do PSM não é apenas uma metodologia de gestão; trata-se de um sistema de governança e mensuração que transforma cada zona da loja em um ativo estratégico.

Quais são os beneficios da aplicação dos pilares da PSM?
– Para o varejo (RMNs): maior previsibilidade de receita, monetização estruturada e padronização comercial.
– Para as marcas: clareza sobre o valor incremental, relatórios comparáveis ao digital e maior confiança nos investimentos.
– Para o shopper: experiência fluida e integrada, sem excesso de estímulos irrelevantes.
Ao aplicar os pilares do PSM, varejistas constroem lojas que vendem mais e comunicam melhor, gerando um ciclo virtuoso de performance, confiança e reinvestimento.
1. Visibilidade Total
– Justificativa: O shopper precisa ter contato com a mensagem no momento mais relevante de sua jornada física.
– Aplicação: Distribuição estratégica de inventário em zonas de entrada, categoria, gôndola e checkout.
– Benefício: Garante cobertura e presença de marca, eliminando pontos cegos no funil in-store.
2. Contexto e Relevância
– Justificativa: Não basta aparecer, é preciso ser relevante para o momento e missão de compra.
– Aplicação: Mensagens vinculadas à lógica da categoria, promoções por ocasião de consumo e insights de shopper.
– Benefício: Eleva a taxa de atenção e a percepção de utilidade da comunicação.
3. Orquestração Full Funnel
– Justificativa: A loja deve refletir a jornada completa do consumidor, do awareness à conversão.
– Aplicação: Planejamento integrado em que cada zona cumpre um papel dentro do funil, sem sobreposição ou ruído.
– Benefício: As marcas conseguem enxergar ROI não apenas em vendas, mas também em construção de marca.
4. Mensuração Integrada
– Justificativa: Sem métricas robustas, In-Store Media perde credibilidade frente ao digital.
– Aplicação: Uso de KPIs unificados (awareness, consideração, conversão, incrementalidade de vendas) e relatórios auditáveis.
– Benefício: Transparência para anunciantes e comparabilidade entre campanhas e canais.
5. Governança e Padronização
– Justificativa: A expansão do inventário exige controle, precificação justa e processos claros.
– Aplicação: Definição de formatos, regras comerciais, padrões criativos e SLAs operacionais.
– Benefício: Aumenta a confiança de marcas e agências, reduzindo fricções comerciais e operacionais.

Quais indicadores que não podem ser ignorados?
Nenhum projeto de In-Store Media se sustenta apenas na instalação de telas ou na comercialização de inventário. O verdadeiro diferencial competitivo está em provar com dados que cada ativação gera valor incremental — seja para o varejo, para as marcas ou para o shopper. Sem indicadores claros, auditáveis e comparáveis ao digital, a In-Store Media corre o risco de ser vista apenas como um “trade 2.0”, incapaz de justificar budgets maiores ou competir por investimentos de mídia.
Por isso, é fundamental construir uma proposta de valor sustentada em KPIs críticos que asseguram credibilidade, transparência e ROI. Esses indicadores não podem ser ignorados, pois são eles que demonstram: a) A audiência real impactada pelas ativações; b) O nível de atenção conquistado no ponto de venda; c) O quanto a mídia realmente move o ponteiro das vendas; d) O impacto da mídia na construção de marca e consideração; e) A eficiência operacional na entrega da campanha.
Só com esse conjunto de métricas é possível transformar a In-Store Media em um canal full funnel legítimo, capaz de entregar awareness, consideração e conversão — sem perder relevância nem credibilidade.
Audiência Validada (Footfall + Visão de Tela)
- Justificativa: Marcas não compram promessas, compram alcance real. É preciso demonstrar quantos shoppers foram expostos e em quais zonas da loja.
- Proposta de valor: Garante comparabilidade com métricas digitais de alcance e frequência, permitindo planejar campanhas cross-channel com maior confiança.
Taxa de Atenção
- Justificativa: Não basta estar no campo de visão; é preciso capturar atenção. Estudos de eye-tracking e dwell time são essenciais.
- Proposta de valor: Mostra a eficácia criativa e justifica investimentos premium em zonas de alto impacto, reforçando que a mídia não é mera “paisagem digital”.
Incrementalidade de Vendas
- Justificativa: O ROI só é comprovado quando conseguimos mostrar lift versus grupo de controle.
- Proposta de valor: Dá às marcas a segurança de que a mídia não apenas expôs, mas realmente influenciou decisões e aumentou share of wallet.
KPIs de Marca (Awareness, Recall, Consideração)
- Justificativa: In-Store Media também é upper funnel e deve comprovar construção de marca, não apenas performance.
- Proposta de valor: Permite atrair budgets de branding e não apenas de trade marketing, expandindo o potencial de monetização da RMN.
Eficiência Operacional
- Justificativa: Campanhas perdem valor se telas ficam apagadas, conteúdos desatualizados ou prazos não cumpridos.
- Proposta de valor: Aumenta a confiança dos anunciantes, mostrando que a operação é confiável, escalável e comparável aos padrões do digital.

Como superar a Principal Barreira: Gestão de Alta Performance?
Quando se fala em acelerar o In-Store Media, o reflexo imediato é pensar em tecnologia: telas, sensores, dados de footfall, integração com plataformas programáticas. No entanto, a verdadeira barreira não é tecnológica, mas organizacional. O desafio central está em como estruturar governança, processos e disciplina para transformar o inventário in-store em uma operação confiável, escalável e lucrativa.
Sem gestão de alta performance, o inventário perde valor porque:
- As métricas se fragmentam, dificultando a comprovação de ROI;
- As marcas perdem confiança, vendo a mídia como improviso de trade e não como ativo estratégico;
- O shopper é impactado de forma caótica, com excesso de mensagens irrelevantes e sobreposição de estímulos;
- A monetização estagna, já que não há consistência para atrair budgets de branding e performance simultaneamente.
Quais são as Dimensões da Gestão de Alta Performance?
Integração com o Full Funnel
- Desafio: Conectar awareness (entradas e zonas premium) com performance (gôndola e checkout) dentro de um mesmo framework de mensuração.
- Caminho: Criar dashboards unificados que demonstrem como cada zona contribui em diferentes estágios da jornada.
Equilíbrio entre Brand e Trade
- Desafio: Evitar que o In-Store Media se torne um espaço apenas de promoção e desconto.
- Caminho: Definir guidelines criativos e comerciais que garantam diversidade de campanhas — branding, lançamento de produto, ativações sazonais e trade.
Modelos Comerciais Híbridos
- Desafio: Achar o ponto de equilíbrio entre venda direta, negociação de pacotes de categoria e venda programática.
- Caminho: Oferecer diferentes camadas de inventário (premium, reservado, automatizado) e precificação dinâmica por zona e sazonalidade.
Transparência na Mensuração
- Desafio: As marcas não aceitam métricas opacas ou relatórios pouco confiáveis.
- Caminho: Implementar auditoria independente, padronização de KPIs e relatórios comparáveis aos do digital.
Governança Operacional
- Desafio: A escala de inventário aumenta o risco de falhas técnicas e inconsistência na execução.
- Caminho: Estabelecer SLAs claros (uptime das telas, atualização de conteúdo, manutenção preventiva) e garantir que a mídia entregue o contratado.
Por que essa barreira é tão decisiva?
Porque é justamente a gestão de alta performance que transforma o In-Store Media de um projeto tático em uma plataforma estratégica. É ela que aumentará a confiança das marcas, abrindo budgets maiores e recorrentes; garantirá sustentabilidade financeira para o varejo, ao precificar corretamente e evitar saturação; protegerá a experiência do shopper, assegurando relevância e fluidez na jornada; e criará um ciclo de melhoria contínua, em que cada campanha gera dados que retroalimentam a operação.

O Futuro da Alta Performance em In-Store Media
Avançar na maximização de receita não significa sacrificar a entrega de valor ao shopper e às marcas. Pelo contrário: o sucesso dependerá da capacidade das RMNs de criar um modelo de gestão inteligente do inventário, precificação flexível e mensuração full funnel.
A próxima fase do In-Store Media exige abandonar a visão simplista de que telas dentro da loja são apenas mais um canal de mídia. Trata-se de construir um ecossistema de impacto integrado, em que cada ponto de contato é precificado de acordo com sua influência real na jornada de compra e conectado a dados transacionais que comprovam valor incremental.
O verdadeiro diferencial competitivo surgirá quando os varejistas forem capazes de:
- Mensurar incrementalidade com rigor estatístico, garantindo que cada campanha prove seu efeito direto em vendas e comportamento de compra.
- Entregar relatórios unificados de full funnel, mostrando para as marcas como awareness, consideração e conversão se conectam dentro da loja.
- Explorar inteligência de categoria e missões de compra, tornando as ativações mais relevantes para o shopper e menos dependentes de ofertas puramente promocionais.
- Orquestrar um inventário híbrido e dinâmico, equilibrando pacotes premium de visibilidade, inventário programático e ativações por categoria ou missão.
Quando essas capacidades se consolidarem, In-Store Media deixará de ser apenas uma linha de receita adjacente para se tornar uma plataforma estratégica de valor, comparável ao digital, mas com um diferencial único: a capacidade de impactar no exato momento da decisão de compra.
Em outras palavras, a alta performance em In-Store Media não se mede apenas pelo quanto ela arrecada, mas pela forma como consegue equilibrar receita, relevância e confiança. O futuro pertence às RMNs que conseguirem transformar telas em ativos de marca e performance, com métricas robustas, governança transparente e foco obsessivo no shopper.