Retail Media não é Trade Digital 2.0: o risco da visão miope de sell-out

Nos últimos anos, o termo Retail Media entrou na agenda dos executivos de varejo e indústria. No entanto, ainda é impressionante como muitos heads de Trade Marketing, tanto do lado do varejo quanto da indústria, continuam insistindo em reduzir esse ecossistema a algo tão raso quanto ativação promocional digital de preço e promoção em telas de LED dentro da loja, conectadas a ERPs e APPs de trade.

Esse reducionismo é não apenas uma falácia perigosa, mas também um entrave estratégico que pode custar caro para quem insiste em defender essa visão estreita. Ainda vemos head de trade ou de shopper marketing debatendo Retail Media e tratando o varejista como cliente!! Está na hora de acordar pra uma nova relação comercial: varejista virou veiculo de mídia na prática!

A armadilha do sell-out imediato

É claro que telas promocionais no PDV podem gerar picos de sell-out. Mas resumir Retail Media a isso é ignorar completamente seu potencial full funnel. Quem foca apenas na ativação promocional imediata esquece que o shopper não se resume ao PDV. Ele pesquisa, compara, recebe estímulos no digital, navega em aplicativos, é impactado por campanhas offsite — e só então chega à loja. Achar que Retail Media se encerra em “telinhas promocionais” é perder de vista o que realmente diferencia esse novo ecossistema: dados, integração e jornada única. Ou mesmo jogar no lixo todo potencial de resultados incrementais da mensuração full funnel a taxas relevantes de ROAS de 8x a 10x. Quem dera que as big techas entregassem esse ROAS em seus ecossistemas sem o first party data dos varejistas!!

A verdadeira força de Retail Media: integração de dados

Retail Media é uma plataforma guarda-chuva que conecta Trade, CRM, marketing, e-commerce, search, APP loja, mídia digital, etc. em torno de uma visão integrada de jornada.
Enquanto o Trade Marketing se limita a campanhas de preço e promoção, visibilidade e posicionamento da marca, execução em loja, etc., a Retail Media constrói algo muito mais sofisticado:

a) Adservers integrados a CDPs para segmentação avançada e personalização em escala.

b) DSPs e mídia programática offsite, ampliando o alcance para além do inventário do varejo.

c) Monetização de toda a jornada — do search onsite até o chão de loja.

d) Mensuração granular por fase de funil, indo além do sell-out e mapeando awareness, consideração, conversão e fidelização.

Essa orquestração entrega algo que Trade Marketing jamais conseguirá entregar sozinho: um ROAS integrado, absurdamente mais alto do que qualquer big tech consegue oferecer, porque é alimentado pelo dado transacional real do varejo.

A falha estrutural dos heads de trade

Por que então ainda existe tanta resistência? Duas hipóteses se impõem de forma muito clara:

a) Falta de conhecimento técnico: muitos líderes de Trade nunca trabalharam com CRM, search ou mídia programática, e por isso tentam forçar a mesma lógica promocional do PDV para esse novo ambiente.

b) Protecionismo corporativo: a tese velada do “não mexam no meu quintal”. Em outras palavras, um movimento para manter controle sobre uma agenda que já não pertence apenas ao Trade, mas sim a uma governança integrada de dados, mídia e shopper journey.

O resultado? Fragmentação, desperdício de investimento e subutilização de um dos maiores ativos estratégicos que o varejo pode ter hoje como véiculo de mídia: utilizar seu inventário e audência a seu favor para monetizar de forma crescente toda sua carteira!!

    Benchmark global: aprendam com os líderes

    Quem ainda acha que Retail Media é apenas promo digital no PDV precisa olhar para os grandes cases globais. Vamos citar alguns exemplos como grande referencias de execução:

    a) Walmart Connect: integração de dados transacionais, mídia offsite e mensuração full funnel.

    b) Amazon Ads: ativação personalizada em todos os pontos de contato do shopper.

    c) CVS e Walgreens: uso de dados de CRM e fidelidade para criar segmentações únicas.

    d) Mercado Livre e Unlimitail: monetização omnicanal em escala, explorando search, display e loja física.

    Nenhum desses players resume Retail Media a telas promocionais em loja. Todos operam com uma visão estratégica de jornada e monetização de dados first-party como motor principal.

    O futuro é full funnel ou não será?

    Retail Media é, antes de tudo, inteligência de dados aplicada à jornada do shopper.
    Quem insiste em enxergar apenas o “puxadinho promocional do PDV” está preso a uma lógica ultrapassada que não conversa com a digitalização acelerada do consumo. O jogo real está na personalização em escala, no uso integrado de dados e na mensuração de ponta a ponta, respeitando cada etapa do funil. É isso que entrega relevância, eficiência e diferenciação competitiva.

    Provocação Final

    O mercado precisa realmente acordar: Retail Media não é Trade Digital, nem tampouco um subproduto de Trade Marketing. É um ecossistema novo, complexo, que exige visão integrada, tecnologia e governança de dados, ancorada em cultura de mensuração e personalização na execução. Ignorar essa realidade é não só miopia estratégica, mas também um atalho para a irrelevância. Vamos continuar aceitando a falácia rasa do “sell-out via telinha” ou vamos finalmente encarar o potencial transformador de uma jornada full funnel, integrada e personalizada?

    Ricardo Vieira
    Ricardo Vieirahttp://www.digitalstoremedia.com.br
    Ricardo Vieira atua em diferentes canais e segmentos há 30 anos no varejo brasileiro, é fundador da ABRAMEDIA e da DIGITAL STORE MEDIA, criado para fomentar todo ecossistema de Retail Media no mercado brasileiro, também dirige o Clube do Varejo, criado em 2019 para desenvolver pequenos varejistas. Ele também fundou e preside o Instituto Nacional do Varejo (INV), promovendo a indústria varejista desde 2017 com soluções inovadoras. Desde 2006, é sócio-diretor da TRADIUM, focada em soluções tecnológicas! Criou o Retail Media Academy, Retail Media News e Retail Media Show para fomentar a excelência em mídia e varejo. Com expertise em inteligência de vendas, trade marketing, CRM e fidelidade, Ricardo lidera projetos de inteligência para indústria e varejo. Sua trajetória inclui papéis significativos como VP de Sustentabilidade na ABRALOG e Coordenador Regional de Projetos na Ambev.

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